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sábado, 14 de julho de 2012

Homenagem póstuma à professora Marildes Marinho (17/10/1953 - 19/07/2011), que integrou a Comissão Provisória da Associação Brasileira de Alfabetização

À memória de Marildes Marinho

A alegria na vida acadêmica, na convivência com os colegas e no trabalho na Faculdade de Educação foi a tônica da vida de Marildes Marinho, professora Associada da FaE/UFMG,  colega que tão cedo partiu do nosso convívio. Embora doa o emprego do verbo no passado – quase inacreditável  – , a sua alegria ainda se mantém viva  entre nós. Impossível, mesmo nas atividades que mais exigiam rigor e seriedade, faltar uma pitada de riso, de brincadeira saudável e inteligente, quando na sua presença. Incansável batalhadora, Marildes não poupava esforços para desenvolver projetos, mas apenas aqueles em que acreditava. Dessa forma, ela foi responsável pela criação de muitas frentes que hoje fazem da FaE uma referência nacional para ações educacionais de inclusão social. 
Faz um ano que a nossa amiga se foi. Se estivesse entre nós, estaria hoje comemorando muitos dos frutos que ela ajudou a plantar. A avaliação do curso de Licenciatura do Campo, o fortalecimento e consolidação da Licenciatura Indígena, a continuidade do Colóquio Letramento e Cultura Escrita, projeto ao qual se dedicou com grande entusiasmo nos últimos anos de sua vida, para citar alguns desses sonhos que se tornaram reais. Hoje nos resta lembrar dela assim: imaginando qual seria a sua alegria se pudesse estar aqui. Esta é a possibilidade que temos de manter viva a sua memória, remoendo ainda muita indignação pela forma como foi tirada do nosso convívio, sem nenhum tipo de aviso, sem nenhuma despedida, quando se encontrava em um momento de plena produção.  Vivia uma crescente e produtiva interlocução no campo dos Novos Estudos do Letramento e da Cultura Escrita, apaixonada pelo que vinha construindo e generosa nas relações que promovia com as suas ações.
Graduada em Letras pela UFMG, com doutorado em Linguística pela Unicamp, e pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales em Paris e no Centre for Language, Discours and Communication do King’s College de Londres, nos últimos anos, vinha incansavelmente organizando, no Setor de Linguagens do DMTE, grupos de professores para atuarem nas Licenciaturas do Campo e Indígena, sem descuidar, nesse processo de ampliação, das discussões concernentes às licenciaturas em Letras e à Pedagogia. À sua volta, ela conseguia reunir pessoas, estimulando o diálogo entre diferentes áreas de conhecimento, com grande capacidade de tecer relações entre elas, o que nem sempre é fácil de se conseguir com êxito no meio acadêmico.
No Ceale, Marildes cumpriu uma trajetória voltada para a formação de professores, para a formação de leitores, sempre com extrema coerência quanto às escolhas que fazia. Ajudou a construir o Centro, e acompanhou a sua trajetória desde a sua criação, participando ativamente das discussões sobre os projetos desenvolvidos pelos pesquisadores do Ceale, no âmbito do GT  Alfabetização e Letramento, da ANPEd, da linha Educação e Linguagem, do Programa de Pós-graduação, e da Educação em Revista como membro da Comissão Editorial por dois triênios.   Foi coordenadora do Pró-leitura durante alguns anos, participou ativamente do curso de formação de professores da Educação Básica Veredas, foi coordenadora do seminário Leituras do Professor, no COLE, para citar alguns dos muitos projetos de formação aos quais se dedicou com grande competência.
Gostava de duvidar de tudo, provocando discussões tão saudáveis para a vida acadêmica. Marildes não separava a reflexão  da práxis educativa, com invenção e inquietação teórica, ingredientes básicos que moviam as suas ações e produções. Ela exercitava pra valer a polêmica tão cara às instituições e ao compromisso ético do trabalho coletivo.
São inúmeros os depoimentos de amigos e amigas que trazem boas lembranças, que jamais serão esquecidas, dos momentos vividos na companhia de Marildes. Companhia que se estendia para além da FaE, ao dividir conosco outros espaços de convivência, de preferência curtindo uma saborosa refeição, uma cachoeira, um bom bate-papo, uma paisagem. Soube viver essa querida “pau-de-enchente” –  expressão mineira que caracteriza a pessoa que não consegue seguir em linha reta até o seu destino e vai parando pelo caminho conversando com um e com outro, tal como um pau de enchente seguindo rio abaixo – como ela mesma gostava de se chamar.  
Como nos versos da toada de Adélia Prado, já citados em homenagem feita a nossa colega pela Educação em Revista: Cantiga triste, pode com ela é quem não perdeu a alegria, aprendemos com a alegria de Marildes a suportar a imensa tristeza da sua falta.   

Eita saudade!
Colegas do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita – CEALE –  da FaE/UFMG


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